Saio de casa e sou vitrine. O vizinho que me dá bom dia também. Ele vê meu relógio, minha blusa, minha calça, meu sapato, meus brincos, minha mochila. Eu vejo chinelo, bermuda, camiseta e pão. Os passageiros do ônibus que eu pego vêem exatamente as mesmas coisas que meu vizinho, o cobrador e o motorista também. Eu vejo novas marcas. Sim, porque as pessoas eu desconheço.
Drummond consegue explicar isso em sua poesia Eu Etiqueta. Aliás, nela ele relata bem a minha indignação quanto ao pagar para fazer propaganda gratuita.
Leve, engraçado, inteligente, sagaz e irônico, assim é Drummond. Com um tema que em principio é corriqueiro torna-se complexo quando se analisa a fundo a questão. O homem escravo da indústria.
Mas de fato o que Drummond quis dizer com isso? Ora é exatamente isso que impressiona nos textos de Drummond. Misto de inconformidade e um quê de protesto pra na verdade dizer que ele próprio não se reconhece? Ou deboche sobre a ânsia consumista da sociedade?
“Hoje sou costurado, sou tecido, sou gravado de forma universal, saio da estamparia e não de casa...”, nesse trecho pode se perceber bem a maneira sutil em que ele nos diz que o que temos não passa de propaganda. O que nos agrada não é algo bonito e confortável. O que nos conquista é aquilo que vemos em todos os lugares, em todas as pessoas, ou seja, aquilo que estamos acostumados a ver.
Eu Etiqueta é mais que moderno, é simples, inteligente e humorado. Intrigante e de certa forma até reflexivo. Leia, absorva e reflita. Pois isso também é Drummond.
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